Em 2010, começa a ser distribuído nas escolas públicas brasileiras um aparelho eletrônico de fabricação nacional para levar aplicações multimídia às salas de aula de forma descomplicada e interativa. Trata-se da fusão de computador e projetor em um único dispositivo de uso múltiplo, com conexão sem fio à internet. Desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com as universidades federais de Santa Catarina e Pernambuco, o projetor Proinfo tem como público-alvo prioritário os 320 mil professores que estão fazendo capacitação em tecnologias da informação e comunicação em todo o país. No começo de 2010 o MEC, que detém a patente, vai lançar edital para produção de 15 mil a 20 mil máquinas.
Os principais diferenciais do projetor multimídia são o baixo custo de fabricação e manutenção, a portabilidade - pesa em torno de quatro quilos -, a alta resistência e o design orientado para a demanda dos usuários. A ideia surgiu em 2007 no âmbito do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), que tem como três eixos básicos o investimento em infraestrutura, em capacitação e em conteúdos. Entre as fontes de inspiração estão o "laptop de cem dólares", iniciativa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e a TV Pendrive, projeto do governo do Paraná para distribuir televisores com cartão de memória e pen drive na rede estadual de educação.
"Discutíamos sobre como levar os conteúdos digitais à sala de aula para torná-la mais atraente e interativa", conta o secretário de educação a distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky. "Em meia hora de conversa, o diretor de infraestrutura, José Guilherme Ribeiro, e eu criamos o conceito do projetor e em três meses foi construído na própria secretaria o primeiro protótipo, um monstrengo que chamamos de Arthur." Do "monstrengo" ao produto finalizado em 2009, houve intenso trabalho interdisciplinar de engenheiros, pedagogos e outros especialistas das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e Santa Catarina (UFSC). Coube à Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), localizada no campus da UFSC em Florianópolis, o desafio de transformar a proposta em um produto viável.
Mais de vinte desenhos diferentes foram feitos durante a evolução do projetor multimídia. Na comparação com aparelhos fabricados em outros países, os pesquisadores concluíram que não há produto similar no mercado. Alguns se aproximam, mas custam três a quatro vezes mais caro e não foram concebidos para uso na escola. A meta estabelecida foi manter o custo em torno de R$ 2 mil para fabricação em escala industrial. Em abril, quando o MEC realizou audiência pública para apresentar o projeto, vários pesos-pesados da indústria eletroeletrônica demonstraram interesse. "Quem conseguir fabricar esse projetor com qualidade, robustez e pelo preço mais baixo possível vai ter, em contrapartida, a possibilidade de ampla difusão do produto", diz Bielschowsky. A versatilidade pode tornar o equipamento atrativo também para venda ao mercado corporativo e ao consumidor doméstico.
Em setembro, 416 projetores multimídia ficaram prontos e foram testados em escolas públicas de Florianópolis, Brasília, Manaus e Recife, para verificar os requisitos de uso. "A partir da experimentação dos professores e estudantes em diferentes contextos, algumas características foram abandonadas e várias sugestões, incorporadas", conta o diretor comercial da Fundação Certi, Laércio Aniceto Silva. Ele enfatiza que o papel dessa tecnologia é valorizar o professor como intermediador do processo de ensino e aprendizagem. Daí a importância de desenhar um equipamento adequado à realidade da sala de aula.
Em 2007 a Certi foi uma das três instituições contratadas pelo governo federal para estudar a viabilidade técnica e econômica do projeto Um Computador por Aluno, incluindo avaliações de usabilidade, teste de software, sistema operacional, cadeia de fornecimento e alternativas para produção nacional da plataforma dos computadores portáteis. Um dos laptops analisados foi o OLPC (One Laptop Per Child), idealizado pelo norte-americano Nicholas Negroponte, do MIT. Como o projeto do governo atrasou em função de dificuldades com a licitação da empresa fornecedora, Negroponte resolveu doar 2 mil OLPCs ao Brasil. Cerca de 500 devem ser testados em Florianópolis de forma integrada com o projetor multimídia.
"Nunca no Brasil foi realizado um experimento que unisse os computadores dos alunos interagindo com um computador de professor dotado de projeção", diz Laércio Silva. "Isso possibilitará uma série de interações entre os alunos e os professores, como competições em rede e trabalhos colaborativos, dinamizando o processo de aprendizagem." Para o diretor da Certi, a experiência inédita permitirá futuras ações de governo e abrirá oportunidades para empresas de tecnologia da informação e comunicação no desenvolvimento de softwares para o segmento da educação.
Conectividade é um dos pontos fortes do projetor Proinfo. Além de drive para CD e DVD, o projetor tem porta USB, o que facilita o uso de materiais transportados em pen drives. Outra possibilidade é utilizar a USB para transformar o projetor em um receptor de TV digital. Um aspecto importante com que os projetistas se preocuparam foi a iluminação. "Chegamos a considerar o uso da tecnologia de LED (sigla em inglês para diodo emissor de luz), que é promissora, mas requer escurecimento total da sala, e isso é muito difícil nas escolas públicas", explica Laércio Silva. "Decidimos adotar a lâmpada, que tem vida útil de três anos e potência suficiente para garantir projeção de qualidade em ambientes que não ficam 100% escuros.
O projeto modular possibilita que o equipamento incorpore novas tecnologias, ampliando assim a sua vida útil. Outro diferencial é a adoção de um processo produtivo modelo, com ecodesign - integração de considerações ambientais como reciclagem, menos toxidade, redução da energia consumida e rastreabilidade. Cada projetor tem uma "impressão digital" com tecnologia RFID (sigla em inglês para identificação por radiofrequência). Isso permite saber com precisão quando e como o aparelho foi produzido, para onde está indo, e se todos os componentes estão dentro da embalagem.