domingo, 14 de setembro de 2008

Cecília Meireles: Poeta e Educadora

Essa dama da literatura é encantadora. Fasciname-me sua obra! Àqueles que ainda não a conhece, faço um convite: descubra-a e depois nos conte um pouco dessa experiência!

Ela mesmo com o seu jeito impar de escrever soube muito bem fazer a sua apresentação:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.
(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.
(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."


A paixão pelos livros e a leitura norteia o caminho da jovem Cecília. Aos 16 anos, ela se diploma professora. A vontade e o fascínio pelo "saber" a conduzem, então, para o estudo de outros idiomas e para o Conservatório Nacional de Música, onde tem aulas de canto e violino.

Ainda que "fizesse versos" e compusesse cantigas para os seus brinquedos desde a escola primária, é na adolescência que Cecília Meireles começa a "escrever poesias", segundo sua própria definição. Em 1919, aos 18 anos, ela publica seu primeiro livro de poemas: ESPECTROS, iniciando um período de grande produção.
Três anos mais tarde, casa-se com o artista plástico português Fernando Correa Dias. Ele seria o ilustrador de futuras obras da poeta e pai de suas três filhas, três Marias: Elvira, Matilde e Fernanda. Um ano depois do casamento, Cecília Meireles publica NUNCA MAIS...E POEMA DOS POEMAS, com ilustrações de Correa Dias. Em 25, o terceiro livro, BALADAS PARA EL-REI. As três obras, apesar de excluídas de sua Obra Poética, publicada em 1958, apontam traços marcantes de toda a produção Ceciliana. Tematicamente, em destaque, o misticismo: Em NUNCA MAIS...E POEMA DOS POEMAS, manifestado através do desejo da união da alma humana com Deus.
Em BALADAS PARA EL-REI, através do desencanto e da nostalgia do além. Formalmente, os poemas constroem-se através da repetição de palavras, vogais e consoantes, refletindo, os versos, uma particular musicalidade. Segundo críticos de sua obra, Cecília Meireles, associando uma percepção sensorial a outra, produz sinestesias transfiguradoras da realidade, anunciando o nível de sua futura produção.
A partir de 1925, a educadora Cecília Meireles se sobressai à poeta. Em 1927, ela publica a prosa poética CRIANÇA, MEU AMOR, livro que posteriormente seria indicado como leitura oficial nas escolas. Dois anos depois, ela se candidata à cátedra de literatura da Escola Normal, mas o cargo, de acordo com as cabeças pensantes, destinava-se a alguém reconhecidamente católico. Cecília concorre à vaga com a tese O ESPÍRITO VITORIOSO, um trabalho liberal onde discorria sobre a liberdade individual na sociedade. Perde para um técnico em educação sem qualquer pretensão literária, perfil que agradava mais aos "eleitores"da vaga a que Cecília Meireles concorria.
A despeito de perseguições mais ou menos veladas, e de dificuldades financeiras, Cecília Meireles luta ainda mais pela renovação educacional vigente. Entre junho de 1930 e janeiro de 33, dirige a Página da Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro. Em seus artigos sobre política, educação e cultura, defende uma política menos casuísta e uma educação moderna. Cecília rompe tabus de uma sociedade, deixando sua marca na História Brasileira como defensora da idéia universal de democracia, numa década em que o mundo vive o período de transição das duas Grandes Guerras. No Brasil, Vargas sai-se vitorioso na Revolução de 30.
A "Página da Educação", comandada por Cecília Meireles, causa fúria no meio político nacional. Cecília refere-se ao presidente Vargas como "Sr. Ditador". Sustentando a idéia de um Brasil menos ufanista, coleciona inimigos e desafetos. Entre eles Alceu Amoroso Lima, crítico católico que, em 71, reconheceria na poeta "uma grande figura feminina do modernismo". Os modernistas, aliás, já a consideravam uma revelação, a partir da publicação de ESPECTROS e BALADAS PARA EL-REI.
Em janeiro de 33, Cecília Meireles encerra seu trabalho frente à Página da Educação. Cansada da perseguição que sofria, manifesta, em correspondência, seu "horror" ao jornalismo. No entanto, ela troca o Diário de Notícias pelo jornal A Nação, contratada sob a condição de não escrever sobre política. Em 34, com o marido, inaugura o Centro de Cultura Infantil do Pavilhão do Mourisco, no Rio. É a primeira biblioteca infantil do país. A convite do governo português, Cecília Meireles dá início a um período de viagens ao exterior. Em Lisboa e Coimbra difunde a cultura, literatura e o folclore brasileiros, em uma série de conferências. Em 1935, ao retornar ao país, novo período de sofrimento não demora a surgir, com o suicídio do marido. Responsável pela educação das três filhas, Cecília Meireles amplia suas atividades profissionais. Volta a lecionar; escreve sobre folclore no jornal A Manhã, crônicas para o Correio Paulista e dirige a Revista Travel in Brazil, no Rio. Além disso, mantém sua atividade no Pavilhão Mourisco.

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