Ela mesmo com o seu jeito impar de escrever soube muito bem fazer a sua apresentação:
"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.
(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.
(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."
(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.
(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."
A paixão pelos livros e a leitura norteia o caminho da jovem Cecília. Aos 16 anos, ela se diploma professora. A vontade e o fascínio pelo "saber" a conduzem, então, para o estudo de outros idiomas e para o Conservatório Nacional de Música, onde tem aulas de canto e violino.
Ainda que "fizesse versos" e compusesse cantigas para os seus brinquedos desde a escola primária, é na adolescência que Cecília Meireles começa a "escrever poesias", segundo sua própria definição. Em 1919, aos 18 anos, ela publica seu primeiro livro de poemas: ESPECTROS, iniciando um período de grande produção.
Três anos mais tarde, casa-se com o artista plástico português Fernando Correa Dias. Ele seria o ilustrador de futuras obras da poeta e pai de suas três filhas, três Marias: Elvira, Matilde e Fernanda. Um ano depois do casamento, Cecília Meireles publica NUNCA MAIS...E POEMA DOS POEMAS, com ilustrações de Correa Dias. Em 25, o terceiro livro, BALADAS PARA EL-REI. As três obras, apesar de excluídas de sua Obra Poética, publicada em 1958, apontam traços marcantes de toda a produção Ceciliana. Tematicamente, em destaque, o misticismo: Em NUNCA MAIS...E POEMA DOS POEMAS, manifestado através do desejo da união da alma humana com Deus.
Em BALADAS PARA EL-REI, através do desencanto e da nostalgia do além. Formalmente, os poemas constroem-se através da repetição de palavras, vogais e consoantes, refletindo, os versos, uma particular musicalidade. Segundo críticos de sua obra, Cecília Meireles, associando uma percepção sensorial a outra, produz sinestesias transfiguradoras da realidade, anunciando o nível de sua futura produção.
A partir de 1925, a educadora Cecília Meireles se sobressai à poeta. Em 1927, ela publica a prosa poética CRIANÇA, MEU AMOR, livro que posteriormente seria indicado como leitura oficial nas escolas. Dois anos depois, ela se candidata à cátedra de literatura da Escola Normal, mas o cargo, de acordo com as cabeças pensantes, destinava-se a alguém reconhecidamente católico. Cecília concorre à vaga com a tese O ESPÍRITO VITORIOSO, um trabalho liberal onde discorria sobre a liberdade individual na sociedade. Perde para um técnico em educação sem qualquer pretensão literária, perfil que agradava mais aos "eleitores"da vaga a que Cecília Meireles concorria.
A despeito de perseguições mais ou menos veladas, e de dificuldades financeiras, Cecília Meireles luta ainda mais pela renovação educacional vigente. Entre junho de 1930 e janeiro de 33, dirige a Página da Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro. Em seus artigos sobre política, educação e cultura, defende uma política menos casuísta e uma educação moderna. Cecília rompe tabus de uma sociedade, deixando sua marca na História Brasileira como defensora da idéia universal de democracia, numa década em que o mundo vive o período de transição das duas Grandes Guerras. No Brasil, Vargas sai-se vitorioso na Revolução de 30.
A "Página da Educação", comandada por Cecília Meireles, causa fúria no meio político nacional. Cecília refere-se ao presidente Vargas como "Sr. Ditador". Sustentando a idéia de um Brasil menos ufanista, coleciona inimigos e desafetos. Entre eles Alceu Amoroso Lima, crítico católico que, em 71, reconheceria na poeta "uma grande figura feminina do modernismo". Os modernistas, aliás, já a consideravam uma revelação, a partir da publicação de ESPECTROS e BALADAS PARA EL-REI.
Em janeiro de 33, Cecília Meireles encerra seu trabalho frente à Página da Educação. Cansada da perseguição que sofria, manifesta, em correspondência, seu "horror" ao jornalismo. No entanto, ela troca o Diário de Notícias pelo jornal A Nação, contratada sob a condição de não escrever sobre política. Em 34, com o marido, inaugura o Centro de Cultura Infantil do Pavilhão do Mourisco, no Rio. É a primeira biblioteca infantil do país. A convite do governo português, Cecília Meireles dá início a um período de viagens ao exterior. Em Lisboa e Coimbra difunde a cultura, literatura e o folclore brasileiros, em uma série de conferências. Em 1935, ao retornar ao país, novo período de sofrimento não demora a surgir, com o suicídio do marido. Responsável pela educação das três filhas, Cecília Meireles amplia suas atividades profissionais. Volta a lecionar; escreve sobre folclore no jornal A Manhã, crônicas para o Correio Paulista e dirige a Revista Travel in Brazil, no Rio. Além disso, mantém sua atividade no Pavilhão Mourisco.