quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Crise na Bolívia

Acusado de massacre, governador de Pando é preso

Apontado pelo Ministério Público boliviano como o mandante de um massacre que resultou em pelo menos 25 mortos, Leopoldo Fernández foi detido por forças do Exército e está preso em La Paz. Presidente Evo Morales comemorou o “cumprimento da Constituição”.

Fonte: Agência Carta Maior
Maurício Thuswohl

O governador do departamento boliviano de Pando, Leopoldo Fernández, é agora a principal peça no xadrez da crise política que se agravou no país nesses últimos dez dias. Peça literalmente no xadrez, pois o comando das Forças Armadas da Bolívia confirmou que militares prenderam Fernández na manhã desta terça-feira (16). A prisão aconteceu na cidade de Cobija, capital do departamento e cidade próxima à fronteira com o Acre. Agora, resta saber qual impacto terá a prisão do governador sobre as negociações entre o governo central boliviano e os governadores dos departamentos rebeldes que, no momento, parece avançar a bom termo. O governador de Pando era uma das estrelas entre os “líderes cívicos” da oposição, apesar de sempre ter adotado um dos discursos mais claramente racistas contra o presidente Evo Morales entre os governadores dos estados que compõem a chamada região da Meia-Lua. Agora, Fernández é acusado de genocídio. Segundo as investigações coordenadas pelo Ministério Público da Bolívia, ele teria ordenado a homens armados sob seu comando que abrissem fogo sobre centenas de indígenas, camponeses e estudantes que participavam de uma marcha no município de Porvenir, em Pando. O resultado, segundo relatos do governo boliviano, foi a morte de pelos menos 25 pessoas. Outras quarenta pessoas foram feridas e, segundo o Exército, cerca de cem pessoas, que fugiram para a mata após o ataque e sobre as quais não se conhece o estado de saúde, continuam desaparecidas. Fernández, que goza de algumas regalias por ser governador, deverá permanecer preso enquanto o Congresso boliviano investiga os assassinatos na região. Segundo a Agência Boliviana de Informação (ABI), o governador de Pando foi preso pouco antes das onze da manhã e imediatamente embarcado num avião para La Paz. Fernández está detido numa base do Exército denominada Grupo Aéreo de Caça (GAC): “Onde está, Fernández terá todas as garantias de segurança. De acordo com os prazos legais, iremos conhecer qual a sua situação jurídica e para onde será deslocado”, afirmou, durante uma entrevista coletiva, o ministro boliviano da Defesa, Walter San Miguel. O presidente Evo Morales, segundo a ABI, afirmou que a prisão de Leopoldo Fernández “se realizou em cumprimento da Constituição” boliviana: “A detenção de Fernández acontece no marco de um estado de sítio, um marco constitucional a que ninguém pode se opor”, disse, referindo-se ao fato de o governador do departamento de Pando não ter “reconhecido” o estado de sítio declarado pelo governo central. “Apliquem a lei”Morales afirmou também esperar que as investigações levem à prisão dos responsáveis pelo massacre de Porvenir: “Saudamos o Ministério Público. Por fim creio que se tenta fazer respeitar [na Bolívia] a vida e o patrimônio nacional. Oxalá isso possa continuar”, disse o presidente boliviano. Morales garantiu ainda que as ações legais contra Fernández terão continuidade: “Exorto as instituições nacionais chamadas a julgar esse caso que apliquem a lei”, disse o presidente da Bolívia. Reunida em Santiago (Chile) na noite de segunda-feira (15), a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), com a presença de nove presidentes, decidiu criar também uma comissão para acompanhar de perto as investigações sobre o massacre de Porvenir: “Se forem comprovadas as violações sistemáticas dos direitos humanos, iremos a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a outros fóruns internacionais para que se punam os responsáveis”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alejandro Foxley.

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